25 de julho de 2013

Artigo - Pregando Cristo no Antigo Testamento (7)

por Dário de Araújo Cardoso



Esta é uma série de postagens sobre como pregar a Cristo no Antigo Testamento. Muitos tem pregado de forma errada usando o Velho Testamento para pregações moralistas ou de auto-ajuda. Pregador, quer aprender a pregar com base no Antigo Testamento? Esta série de postagem lhe dará uma boa introdução.
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2. A PREGAÇÃO BIOGRÁFICA EXEMPLARISTA
2.2. Objeções ao uso do sermão biográfico exemplarista 
Greidanus no livro Sola Scriptura apresenta uma série de obj eções ao uso do sermão biográfico exemplarista. Aqui são apresentadas as quatro mais con­tundentes: seu caráter antropocêntrico, o desvio hermenêutico e a banalização da Escritura que promove e o estabelecimento de paralelos falsos ou errôneos.
2.2.4. Estabelece paralelos falsos ou errôneos
O objetivo de estabelecer um paralelo direto entre o registro bíblico e o presente tende a levar o pregador a estabelecer paralelos ilegítimos e até mesmo a fazer julgamentos errôneos acerca dos personagens bíblicos.
Greidanus apresenta um conhecido exemplo que ilustra bem a diferença entre a abordagem exemplarista e a abordagem histórico-redentiva. Uma pre­gação sobre as bodas da Caná geralmente recebe a seguinte aplicação: “Como o casal nubente convidou Jesus para o casamento, assim também nós devemos convidar Jesus para vir à nossa casa diariamente, e como Jesus transformou a água em vinho, ele também fará nossa água comum um delicioso vinho”. Entretanto, Holwerda faz a seguinte aplicação do mesmo texto:
 É impossível para você convidar a Jesus como eles fizeram porque ele não mais está na terra em sua natureza humana. Portanto, ele não poderá ser convidado para nossa mesa como foi para a deles. Ele não está aqui; Ele ressuscitou. Além disso, não é permitido a você convidar a Jesus como eles fizeram, pois até aquele tempo eles somente o conheciam como Jesus, o filho do carpinteiro de Nazaré… Mas ele tem sido pregado a você como o Cristo. [...] Você é muito mais rico, portanto.
Dessa forma, ao invés de uma aplicação do tipo “então” é igual a “agora”, temos uma “então” não é igual a “agora”. Um marcante contraste deve ser estabelecido para fazer justiça tanto ao texto quanto ao tempo presente.

A situação se torna mais crítica quando a abordagem exemplarista se vê obrigada a negar seu próprio princípio quanto se depara com textos como o de Samuel cortando Agague em pedaços, o suicídio de Sansão ou Jeremias pregando a deserção. Todos esses são bons exemplos, pois foram respostas às exigências da palavra de Deus. Portanto, não podem ser condenados ao mesmo tempo em que não podem ser apontados como modelos a serem aplicados a toda a igreja. Greidanus aponta sobre aqueles que usam a abordagem exemplarista:
Eles simplesmente não podem ser estritos imitadores [dos personagens da Escritura] porque a realidade da distância histórica se impõe sobre seu ponto inicial de que as pessoas no texto são exemplos e espelhos para nós hoje: a força da história quebra o espelho exemplarista. Daí surge a tensão na pregação exemplarista. Por um lado, um marco de equação histórica é aplicado: “os fatos sobre pessoas do passado são transportados para o nosso tempo”; eles são nossos exemplos. Por outro lado, a descontinuidade histórica se introduz neste esquema ideal: as pessoas no texto não se adequam exatamente à nossa situação; nós não podemos fazer literalmente as coisas que eles fizeram.
Surge daí a tendência de espiritualização dos textos históricos. Ao invés de exigir o árduo trabalho de identificar as circunstâncias históricas do texto, seu lugar na história da redenção e, então, sua aplicação ao leitor contempo­râneo, o uso da espiritualização oferece o atalho muito mais simples de buscar verdades espirituais por trás dos fatos. Greidanus aponta que, em essência, a espiritualização nada mais é do que alegorização, a busca de verdades espi­rituais simbolizadas em certas passagens do texto.

Mesmo aqueles que estão comprometidos com a apresentação de Cristo nos textos históricos facilmente se vêem enredados por uma prática similar, que é a tipologização (diferente de tipologia). Busca-se no texto um atalho para Jesus Cristo, sua humilhação, seu ministério, seu sacrifício e sua glo­rificação. Ainda que a interpretação tipológica seja apropriada para alguns textos, a tipologização não é uma tentativa legítima de descobrir como o texto do Antigo Testamento se relaciona com Cristo. Ela é, muitas vezes, apenas um atalho que despreza o propósito e o contexto em que o texto foi escrito. Veer aponta que esse tipo de artifício para tornar um sermão cristocêntrico, ao contrário do que supõe seu utilizador, se baseia no fato de que o pregador não percebeu o caráter cristológico de determinada porção histórica. Ele afirma que o caráter cristológico de um texto histórico não é salvo pela descoberta de um tipo. Isso não significa que não existam tipos de Cristo na Escritura, mas que deve-se, via de regra, limitar-se aos tipos que foram estabelecidos pelo próprio Senhor e não multiplicá-los arbitrária e indiscriminadamente.

Pode-se, portanto, observar a quantidade de problemas relacionados à pregação biográfica exemplarista. Apesar de tão comum e largamente difun­dida, essa abordagem ao texto bíblico se mostra incompatível com os princí­pios reformados de hermenêutica e homilética bíblicas. Ela é essencialmente antropocêntrica em sua abordagem e em sua interpretação do texto bíblico. Ao invés de expor os atos, pensamentos e propósitos do Deus triúno, coloca o foco nos atos, pensamentos e personalidade dos personagens e se apoia na criatividade e imaginação do pregador em estabelecer os paralelos que lhe são mais convenientes entre o tempo bíblico e o atual. Ela banaliza a Escritura ao torná-la um depósito de ilustrações pessoais que poderiam ser encontrados em qualquer livro religioso ou personagem histórico. Torna assim indistinto o valor das Escrituras como regra de fé e prática. Desconsidera também o valor histórico dos textos, uma vez que se concentra apenas naquilo que interessa à aplicação moderna e busca fazê-lo através de atalhos como a moralização, a espiritualização e a tipologização. Acima de tudo, a pregação biográfica exem- plarista nega o pressuposto apostólico de que o objetivo primário da pregação é apresentar Cristo aos ouvintes e de que esse objetivo pode ser alcançado em todas as passagens do Antigo Testamento, incluindo assim as narrativas histó­ricas biográficas. Faz-se, portanto, necessária a proposição de uma abordagem diferente para os sermões biográficos. Tal abordagem pode ser alcançada através do método cristocêntrico histórico-redentor proposto por Greidanus.
[cont.]

Fonte: Voltemos ao Evangelho  Divulgação: Massoreticos 

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