Juliano Heyse
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É necessário, portanto, que o bispo seja irrepreensível, esposo de uma só mulher... 1 Tm 3:2
alguém que seja irrepreensível, marido de uma só mulher... Tt 1:6-7
Introdução
Esta qualificação é uma das mais polêmicas. Desde os primórdios da
igreja os exegetas tentam descobrir exatamente o que Paulo quer dizer
com o seu "marido de uma só mulher". A qualificação aparece nas duas
listas. Vamos aos comentários. É importante observar que pode-se tirar
um ensinamento baseado na soma dos comentários. A maioria deles vai para
direções semelhantes, sendo que talvez o de Jamieson, Fausset e Brown
seja o que mais saia do padrão dos outros e o de MacArthur seja o mais
interessante e surpreendente. Mas veja por você mesmo. Coloquei em
negrito as afirmações que mais resumem a posição do comentarista,
portanto todos os grifos são meus.
Os comentários foram listados em ordem alfabética.
Grego
- Em 1 Timóteo μιαζ γυναικοζ ανδρα - mias ginaikos andra
Rienecker e Rogers – "marido de uma mulher". A frase difícil significa provavelmente que ele tem apenas uma esposa de cada vez.
- Em Tito μιαζ γυναικοζ ανηρ - mias ginaikos aner
Rienecker e Rogers – (-)
Comentários
Broadman - O que exatamente isso significa permanece em disputa. Cinco interpretações têm sido sugeridas: (1) Fiel à sua única esposa; (2) casado com uma esposa de cada vez, isto é, monógamo;
(3) casado só uma vez, isto é, não recasado depois de um divórcio ou a
morte da esposa; (4) nunca divorciado e (5) necessariamente casado.
Apesar de Paulo ter se oposto àqueles que proibiam o casamento, a última
opção contradiria seus pontos de vista em 1 Coríntios 7 onde ele
desencoraja o casamento "por causa da angustiosa situação presente". A
antiga tradição contrária ao novo casamento tenderia a favorecer o
terceiro ponto de vista, mas o encorajamento dado a Paulo ao segundo
casamento de viúvas em 5:14 depõe contra. A natureza genérica das instruções faz com que o primeiro ou o segundo pontos de vista sejam os mais prováveis.
Poligamia tanto entre os judeus como entre os gentios era extremamente
comum; infidelidade no casamento era quase que um hábito pagão. Paulo
insiste em fidelidade ao laço matrimonial.
D. A. Carson - Em alguns aspectos essa é a mais
difícil ou disputada qualificação da lista. Ela tem sido interpretada
de diversas formas. Alguns pensam que significa que este homem deve ser
casado - que ele deve ser um marido. Essa interpretação é altamente
improvável. Está claro que Paulo não era casado, pelo menos naquele
momento da vida dele, e certamente o Senhor Jesus nunca foi casado. Em 1
Coríntios 7, Paulo reconhece que há certas vantagens em ser solteiro no
ministério. (...) Assim há vantagens em ser solteiro no ministério, e a
condição de solteiro não deveria ser menosprezada. É altamente
improvável que esse texto, então, estipule que um presbítero tenha que
ser casado.
Algumas pessoas acham que esse verso sugere que o presbítero / pastor /
bispo é proibido de casar-se novamente, se, por exemplo, sua primeira
esposa falecer: ele deve ser o marido de só uma esposa, diria essa
interpretação, não importa quanto tempo ele ou ela vivam. Mais uma vez,
isso também é improvável. Em Romanos 7, Paulo insiste que não há nada
desonroso em casar-se novamente, casando-se com um cônjuge cristão,
depois que o primeiro faleceu. Certamente ele não dá nenhuma indicação
de que tal passo é inconcebível no caso de um presbítero.
Alguns acreditam que esse verso ensina que um ancião não pode ser um
divorciado que recasou. A Bíblia certamente adverte de várias formas
contra o divórcio. Mas também é muito importante não fazer do divórcio o
pior pecado no horizonte, o pecado imperdoável, o pecado contra o
Espírito santo. Alguns tentaram impor uma proibição contra qualquer um
que já tenha estado divorciado em algum momento da sua vida de tornar-se
ministro do evangelho. Assim, ele poderia ter sido um assassino, e
então pago a dívida dele à sociedade, saído da prisão e ter sido
convertido e ter se tornado um ministro do evangelho. Mas se ele já
esteve divorciado, ele não pode entrar no ministério - o que de alguma
forma projeta uma imagem do divórcio como sendo o pecado imperdoável. O
ponto em que o divórcio desqualifica uma pessoa para o ministério, me
parece, está ligado a uma categoria que nós já discutimos: "um
presbítero deve ser irrepreensível". É algo ligado à credibilidade; ou,
ainda, um pouco mais adiante, "ele deve governar bem sua própria casa."
Há uma preocupação quanto a alguém cuja vida rachou no seu matrimônio, e
então, três meses depois, sente-se qualificado para estar de volta ao
ministério. Mas alguém diria que ele se arrependeu, afinal de contas, e o
evangelho é sempre algo relacionado ao perdão, não é? A Bíblia
claramente tem algo mais severo a dizer do que isso. Divórcio não é o
pecado maior, nem é o pecado imperdoável, contudo pode desqualificar uma
pessoa para o ministério precisamente pelo tanto que destrói da
credibilidade dela. Há mais que eu poderia dizer, mas o divórcio
simplesmente não é o tema dessa qualificação.
Algumas pessoas interpretam esse versículo de forma que ele signifique
que um ancião não deve ser um polígamo; ou seja, não pode ser alguém que
se casa com duas ou mais esposas. As pessoas contestam essa
interpretação dizendo que ninguém na igreja cristã teria se casado com
duas ou três esposas; assim por que isso deveria ser estipulado? Além
disso, se discute que no primeiro século a poligamia não era algo tão
comum. Por que então estabelecer essa restrição particular? Entretanto,
pode ser mostrado que havia mais poligamia no primeiro século do que
algumas pessoas pensam, especialmente nas classes sociais em que as
pessoas se sentiam acima da regra comum. Herodes o Grande teve dez
esposas. Bem, ele não as teve todas de uma vez porque ele assassinou
duas delas, mas ele teve várias ao mesmo tempo. (...) Mas na igreja, é o
contrário: poligamia o desqualifica para a liderança.
(...) Até onde vai o assunto de que Paulo trata aqui - o tema da
poligamia - os polígamos estão simplesmente excluídos. Uma das razões é
que, na Bíblia, o casamento é apresentado não só como uma instituição
social, mas como um modelo, um "tipo", da relação entre o Cristo e a
"sua noiva", a igreja - e Cristo não tem muitas noivas, muitas igrejas. O
matrimônio é um tipo da relação entre Cristo e o seu povo, a igreja. Assim
há algo a ser modelado a respeito de Cristo e da igreja, pelo marido e
pela esposa, e assim por uma estrutura de matrimônio não só
caracterizada por fidelidade e integridade, mas também pela monogamia. De qualquer forma, Paulo exclui o polígamo da possibilidade de ser pastor / bispo / presbítero.
Jamieson, Fausset e Brown - refutando o
celibato do sacerdócio romano. Apesar dos judeus praticarem poligamia,
ele está escrevendo para uma igreja gentílica, e como a poligamia nunca
foi permitida nem mesmo entre leigos na igreja, a antiga interpretação
que a proibição aqui é contra a poligamia em um candidato a bispo não
está correta. Deve, portanto, significar que, mesmo que leigos possam
se casar novamente de forma legítima, seria melhor que candidatos ao
episcopado ou presbitério fossem casados somente uma vez. Como em 1
Tm 5:9, "esposa de um só marido", implica em uma mulher casada uma única
vez; portanto "marido de uma só mulher" aqui deve significar a mesma
coisa. O sentimento que prevalecia entre os gentios, bem como entre os
judeus (compare com Ana em Lc 2:36-37), contrário a um segundo
casamento, teria feito com que Paulo, baseado na conveniência e
conciliação em coisas indiferentes e que não envolvessem o
comprometimento de um princípio, colocasse uma proibição no caso
daqueles que ocupassem uma posição tão proeminente como bispo e diácono.
(...) O concilio de Laodicéia e os cânones apostólicos desaprovavam
segundos casamentos, especialmente em caso de candidatos à ordenação. É
claro que, como o segundo casamento era legítimo, o seu caráter
indesejável só se sustenta sob circunstâncias especiais. Está implícito aqui também, que aquele que tem uma esposa e uma família virtuosa é preferível a um solteiro;
porque aquele que está obrigado a desempenhar os deveres domésticos
mencionados aqui, tem uma probabilidade maior de ser mais atraente para
aqueles que têm compromissos semelhantes, porque ele os ensina não só
por preceito, mas também pelo exemplo (1 Tm 3:4,5). Os judeus ensinam
que um sacerdote não deve ser nem não casado, nem sem filhos, para que
não seja inclemente [BENGEL]. Portanto, na sinagoga, "ninguém deve
apresentar uma oração em público, a não ser que seja casado"[em Colbo,
cap. 65; VITRINGA, Sinagoga e Templo].
João Calvino - (...) Uma das exposições mais
aceitas é de que aquele que é aceito para este ofício não deve ser
alguém casado mais de uma vez, depois que a primeira esposa falece. Mas
tanto aqui como em Tito 1:6, as palavras do apóstolo são "seja" e não
"tenha sido". E nesta mesma epístola, quando ele fala de viúvas, (1 Tm
5:10), ele expressamente utiliza o tempo passado. Além disso, dessa
forma ele contradiria a si mesmo; porque em outro ponto ele diz que não
pretendia enredar as consciências.