por Dário de Araújo Cardoso*
[ Parte 1 ] [ Parte 2 ] [ Parte 3 ] [ Parte 4 ] [ Parte 5 ] [ Parte 6 ] [Parte 7 ] [ Parte 8 ] [Parte 9 ] [ Parte 10 ]
“Examinais as Escrituras, [...] elas que de mim testificam;”(Jesus – João 5:39)
2. A PREGAÇÃO BIOGRÁFICA EXEMPLARISTA
2.1. Definição e características principais
Encontra-se no site da Aliança Bíblica Universitária uma definição que ilustra claramente o que é o sermão biográfico exemplarista: “O sermão biográfico é um tipo específico de sermão que tem por objetivo expor a vida de algum personagem bíblico como modelo de fé e exemplo de comportamento”. Koller indica que o sermão biográfico é aquele que “é construído em torno de uma pessoa e não de uma verdade central”. Lloyd Perry explica que a biografia trata primeiramente de pessoas e incidentalmente de eventos, enquanto que na história a ênfase se inverte. Assim, o sermão biográfico é aquele que lida com personagens bíblicos e com os eventos dos quais eles são protagonistas. Vê-se facilmente que grande parte das narrativas das Escrituras pode servir a esse propósito, de tal forma que, vista assim, esta pode tornar-se uma importante fonte de material para o pregador. Perry diz, com certo exagero, que há um suprimento inexaurível de material bíblico para a pregação de sermões biográficos, apontando que há 2.930 diferentes personagens na Escritura.
Perry aponta os benefícios da pregação biográfica:
Pregar sobre personagens da Bíblia dá ao ministro a oportunidade de apresentar de maneira clara o equivalente moderno da experiência de um personagem bíblico. O uso desse tipo de tema subjetivo ajuda a tornar a Escritura vívida com pessoas que enfrentaram situações reais, e com cujas vidas, dificuldades, esperanças e relacionamentos Deus esteve imediatamente ocupado e intimamente envolvido.
Para ele, o sermão biográfico é uma excelente maneira de demonstrar a
relevância contemporânea das Escrituras. Greidanus observa que essa
abordagem é fruto da busca dos homens por significado nos eventos
passados, pela relevância da história, daí seu apelo universal. Koller
observa que a pregação sobre personagens bíblicos seja talvez “o modo
mais fácil de pregar a Bíblia, o que tem maior probabilidade de atrair
as pessoas e prender sua atenção, e o que mais provavelmente será
lembrado”. Não é à toa que a abordagem exempla- rista da pregação
biográfica é tão difundida.
Greidanus aponta que Clemente, o pai da igreja, já usava largamente a
abordagem exemplarista. Clemente via a Bíblia como um “livro de modelos
éticos”. Havia bons modelos, dignos de imitação, como os patriarcas,
Moisés, Jó, Raabe, Davi; e maus exemplos, cujas atitudes devem ser
evitadas, como Caim, a esposa de Ló e Esaú.
Justino Mártir relata que os pregadores gostavam de escolher um texto histórico e exortar os ouvintes a seguir o bom exemplo apresentado. Na Idade Média a pregação do Antigo Testamento era recomendada porque “suas histórias fascinavam as pessoas e espelhavam suas vidas”.
Até mesmo Lutero e Calvino não deixaram de ser influenciados pela
abordagem exemplarista. Reu cita Lutero: “Esta é a correta compreensão
de todo o Antigo Testamento – ter em mente os admiráveis ditos dos
profetas acerca de Cristo, compreender e observar os exemplos
admiráveis, e usar as leis de acordo com nosso bom prazer e torná-las em
nosso benefício”. De acordo com Reu, nesta questão algo semelhante pode
ser apontado sobre Zuínglio e Calvino: “Os sermões de Zuínglio, e
especialmente os de Calvino, sobre o Antigo Testamento têm as seguintes
características em comum com aqueles de Lutero: eles apresentam os
santos do Antigo Testamento como exemplos de padrão e advertência…”. De
acordo com Huyser:
Todos os pregadores subseqüentes de tradição reformada – luteranos ortodoxos, calvinistas, puritanos, pietistas, metodistas e batistas – andaram nos passos de Lutero e Calvino… Eles viram, não somente como seu direito, mas também como seu sagrado dever… interpretar e aplicar a história bíblica de uma maneira “exemplarista” e assim estabelecer a linha desde o passado até o presente.
Braga explica assim o processo de confecção de um sermão biográfico:
“Começando com uma passagem um tanto extensa que trate de um personagem
bíblico, podemos procurar outras referências a essa pessoa e formar um
quadro para um esboço de sermão biográfico”.
De acordo com Perry, a reunião do material para o sermão deve incluir
uma pesquisa sobre o significado do nome do personagem, sua história
familiar, crises religiosas ou seculares que enfrentou, amizades que
desenvolveu, faltas e falhas que possam servir de advertência, suas
contribuições para sua época e para a posteridade. Ele indica que o
pregador deve estar atento às ideias que tais informações possam sugerir
e buscar atender ao desejo da congregação por uma lição da vida do
personagem que seja pessoal, indicativa e prática para sua vida
diária. Ele adiciona que informações extrabíblicas sobre o personagem
podem ser interessantes e que esta é uma especial oportunidade para o
uso da imaginação para amplificar os relatos bíblicos, uma vez que ela é
necessária para dar vida ao personagem. Na
exposição do sermão Koller recomenda duas abordagens: 1. Conta-se a
história daquela vida, indicando em cada fase um ponto principal,
seguido da lição derivada; ou 2. Primeiro estabelecem-se as lições, como
pontos principais, e então esses pontos são desenvolvidos com material
derivado da história.
Eis alguns exemplos de sermões biográficos extraídos do livro de Braga:
1) De Pecadora a Santa – sobre Raabe
- Seu passado trágico: Js 2.1; Hb 11.31; Tg 2.25
- Sua fé em Deus: Hb 11.31
- Sua obra de fé: Js 2.1-6; Tg 2.25
- Seu testemunho bendito: Js 2.9-13
- V. Sua influência maravilhosa: Js 2.18-19; 6.22-23, 25
- Sua posteridade nobre: Mt 1.5; cf. Rt 4.21-22
2) Fé Viva – sobre Raabe
- Uma fé que salva: Hb 11.31
- Uma fé que opera: Js 2.1-6; Tg 2.25
- Uma fé que testifica: Js 2.9-13
- ma fé que influencia: Js 2.18-19; 6. 22-23, 25
- Um fé que dá frutos permanentes: Mt 1.5; cf. Rt 4.21-22
3) O Preço do Mundanismo – sobre Ló
- Ele escolheu seu modo de vida: Gn 13.1-13.
- Ele persistiu em sua própria escolha: Gn 14.1-16; 2Pe 2.6-8.
- Ele sofreu as conseqüências de sua escolha errada: Gn 19.1-38
4) Ganho ou Perda: A Escolha é Nossa – sobre Ló
- Podemos escolher nosso modo de vida.
- Fazendo nossos próprios planos independentemente de Deus, como Ló: Gn 13.1-13
- Não levando em consideração as associações a que esse tipo de vida nos possa levar, como Ló: Gn 13.12-13, 2Pe 2.6-8
- Podemos persistir em nosso próprio estilo de vida.
- Não dando ouvidos à voz da consciência, como Ló: 2Pe 2.6-8
- Não dando ouvidos às advertências que Deus graciosamente nos faz, como Ló depois de ser salvo por Abraão: Gn 14.1-16
- Devemos sofrer as conseqüências de nossa impiedade.
- Mediante a possível perda de tudo o que consideramos precioso, como Ló: Gn 19.15-16, 30-35
- Mediante a perda de nosso próprio caráter, como Ló: Gn 19.1, 6-8, 30-38
Tendo qualificado a proposição do sermão biográfico exemplarista e
apresentado exemplos de seu uso, é preciso agora analisá-lo mais
sistematicamente.
[cont.]
Fonte: Voltemos ao Evangelho Divulgação: Massoreticos
Nenhum comentário:
Postar um comentário