16 de julho de 2013

Artigo - Pregando Cristo no Antigo Testamento (4)

por Dário de Araújo Cardoso*

Esta é uma série de postagens sobre como pregar a Cristo no Antigo Testamento. Muitos tem pregado de forma errada usando o Velho Testamento para pregações moralistas ou de auto-ajuda. Pregador, quer aprender a pregar com base no Antigo Testamento? Esta série de postagem lhe dará uma boa introdução.

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“Examinais as Escrituras, [...] elas que de mim testificam;”
(Jesus – João 5:39)

2. A PREGAÇÃO BIOGRÁFICA EXEMPLARISTA

2.1.    Definição e características principais

Encontra-se no site da Aliança Bíblica Universitária uma definição que ilustra claramente o que é o sermão biográfico exemplarista: “O sermão biográ­fico é um tipo específico de sermão que tem por objetivo expor a vida de algum personagem bíblico como modelo de fé e exemplo de comportamento”. Koller indica que o sermão biográfico é aquele que “é construído em torno de uma pessoa e não de uma verdade central”. Lloyd Perry explica que a biografia trata primeiramente de pessoas e incidentalmente de eventos, enquanto que na história a ênfase se inverte. Assim, o sermão biográfico é aquele que lida com personagens bíblicos e com os eventos dos quais eles são protagonistas. Vê-se facilmente que grande parte das narrativas das Escrituras pode servir a esse propósito, de tal forma que, vista assim, esta pode tornar-se uma impor­tante fonte de material para o pregador. Perry diz, com certo exagero, que há um suprimento inexaurível de material bíblico para a pregação de sermões biográficos, apontando que há 2.930 diferentes personagens na Escritura.

Perry aponta os benefícios da pregação biográfica:

Pregar sobre personagens da Bíblia dá ao ministro a oportunidade de apresen­tar de maneira clara o equivalente moderno da experiência de um personagem bíblico. O uso desse tipo de tema subjetivo ajuda a tornar a Escritura vívida com pessoas que enfrentaram situações reais, e com cujas vidas, dificuldades, esperanças e relacionamentos Deus esteve imediatamente ocupado e intima­mente envolvido.

Para ele, o sermão biográfico é uma excelente maneira de demonstrar a relevância contemporânea das Escrituras. Greidanus observa que essa abor­dagem é fruto da busca dos homens por significado nos eventos passados, pela relevância da história, daí seu apelo universal. Koller observa que a pregação sobre personagens bíblicos seja talvez “o modo mais fácil de pregar a Bíblia, o que tem maior probabilidade de atrair as pessoas e prender sua atenção, e o que mais provavelmente será lembrado”. Não é à toa que a abordagem exempla- rista da pregação biográfica é tão difundida.

Greidanus aponta que Clemente, o pai da igreja, já usava largamente a abordagem exemplarista. Clemente via a Bíblia como um “livro de modelos éticos”. Havia bons modelos, dignos de imitação, como os patriarcas, Moisés, Jó, Raabe, Davi; e maus exemplos, cujas atitudes devem ser evitadas, como Caim, a esposa de Ló e Esaú.
Justino Mártir relata que os pregadores gostavam de escolher um texto histórico e exortar os ouvintes a seguir o bom exemplo apresentado. Na Idade Média a pregação do Antigo Testamento era recomendada porque “suas histórias fasci­navam as pessoas e espelhavam suas vidas”.
Até mesmo Lutero e Calvino não deixaram de ser influenciados pela abor­dagem exemplarista. Reu cita Lutero: “Esta é a correta compreensão de todo o Antigo Testamento – ter em mente os admiráveis ditos dos profetas acerca de Cristo, compreender e observar os exemplos admiráveis, e usar as leis de acordo com nosso bom prazer e torná-las em nosso benefício”. De acordo com Reu, nesta questão algo semelhante pode ser apontado sobre Zuínglio e Calvino: “Os sermões de Zuínglio, e especialmente os de Calvino, sobre o Antigo Testamento têm as seguintes características em comum com aqueles de Lutero: eles apresentam os santos do Antigo Testamento como exemplos de padrão e advertência…”. De acordo com Huyser:
Todos os pregadores subseqüentes de tradição reformada – luteranos ortodoxos, calvinistas, puritanos, pietistas, metodistas e batistas – andaram nos passos de Lutero e Calvino… Eles viram, não somente como seu direito, mas também como seu sagrado dever… interpretar e aplicar a história bíblica de uma maneira “exemplarista” e assim estabelecer a linha desde o passado até o presente.
Braga explica assim o processo de confecção de um sermão biográfico: “Começando com uma passagem um tanto extensa que trate de um personagem bíblico, podemos procurar outras referências a essa pessoa e formar um quadro para um esboço de sermão biográfico”.

De acordo com Perry, a reunião do material para o sermão deve incluir uma pesquisa sobre o significado do nome do personagem, sua história familiar, crises religiosas ou seculares que enfrentou, amizades que desenvolveu, faltas e falhas que possam servir de advertência, suas contribuições para sua época e para a posteridade. Ele indica que o pregador deve estar atento às ideias que tais informações possam sugerir e buscar atender ao desejo da congregação por uma lição da vida do personagem que seja pessoal, indicativa e prática para sua vida diária. Ele adiciona que informações extrabíblicas sobre o personagem podem ser interessantes e que esta é uma especial oportunidade para o uso da imaginação para amplificar os relatos bíblicos, uma vez que ela é necessária para dar vida ao personagem. Na exposição do sermão Koller recomenda duas abordagens: 1. Conta-se a história daquela vida, indicando em cada fase um ponto principal, seguido da lição derivada; ou 2. Primeiro estabelecem-se as lições, como pontos principais, e então esses pontos são desenvolvidos com material derivado da história.

Eis alguns exemplos de sermões biográficos extraídos do livro de Braga:
1) De Pecadora a Santa – sobre Raabe
  1. Seu passado trágico: Js 2.1; Hb 11.31; Tg 2.25
  2. Sua fé em Deus: Hb 11.31
  3. Sua obra de fé: Js 2.1-6; Tg 2.25
  4. Seu testemunho bendito: Js 2.9-13
  5. V. Sua influência maravilhosa: Js 2.18-19; 6.22-23, 25
  6. Sua posteridade nobre: Mt 1.5; cf. Rt 4.21-22
2)  Fé Viva – sobre Raabe
  1. Uma fé que salva: Hb 11.31
  2. Uma fé que opera: Js 2.1-6; Tg 2.25
  3. Uma fé que testifica: Js 2.9-13
  4. ma fé que influencia: Js 2.18-19; 6. 22-23, 25
  5. Um fé que dá frutos permanentes: Mt 1.5; cf. Rt 4.21-22
3) O Preço do Mundanismo – sobre Ló
  1. Ele escolheu seu modo de vida: Gn 13.1-13.
  2. Ele persistiu em sua própria escolha: Gn 14.1-16; 2Pe 2.6-8.
  3. Ele sofreu as conseqüências de sua escolha errada: Gn 19.1-38
4)  Ganho ou Perda: A Escolha é Nossa – sobre Ló
  1. Podemos escolher nosso modo de vida.
    • Fazendo nossos próprios planos independentemente de Deus, como Ló: Gn 13.1-13
    • Não levando em consideração as associações a que esse tipo de vida nos possa levar, como Ló: Gn 13.12-13, 2Pe 2.6-8
  2. Podemos persistir em nosso próprio estilo de vida.
    • Não dando ouvidos à voz da consciência, como Ló: 2Pe 2.6-8
    • Não dando ouvidos às advertências que Deus graciosamente nos faz, como Ló depois de ser salvo por Abraão: Gn 14.1-16
  3. Devemos sofrer as conseqüências de nossa impiedade.
    • Mediante a possível perda de tudo o que consideramos precioso, como Ló: Gn 19.15-16, 30-35
    • Mediante a perda de nosso próprio caráter, como Ló: Gn 19.1, 6-8, 30-38
Tendo qualificado a proposição do sermão biográfico exemplarista e apre­sentado exemplos de seu uso, é preciso agora analisá-lo mais sistematicamente.

[cont.]

Fonte: Voltemos ao Evangelho  Divulgação: Massoreticos

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