12 de julho de 2013

Artigo - Pregando Cristo no Antigo Testamento (3)


por Dário de Araújo Cardoso*

Esta é uma série de postagens sobre como pregar a Cristo no Antigo Testamento. Muitos tem pregado de forma errada usando o Velho Testamento para pregações moralistas ou de auto-ajuda. Pregador, quer aprender a pregar com base no Antigo Testamento? Esta série de postagem lhe dará uma boa introdução.

 
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“eu nunca encontrei um texto que não possuísse uma estrada para Cristo” (Spurgeon)
  1.  A Proposta e as Razões da Pregação Cristocêntrica 
Na história da igreja deve ser lembrada a bem conhecida máxima de Agostinho: “No Antigo Testamento o Novo é latente; no Novo, o Antigo é patente”.  Ele escreveu que há significados escondidos nas Escrituras divinas que devem ser investigados da melhor forma possível, mas sempre com a certeza de que todos os eventos históricos e a narrativa deles são de alguma forma a prefiguração de eventos futuros e devem ser interpretados somente com referência a Cristo e sua igreja.  Avançando para a Reforma encontra-se Lutero afirmando convictamente que o testemunho de Cristo é o critério não somente para a boa pregação, mas, antes de tudo, para a avaliação dos livros bíblicos. Ele escreveu: “Em toda a Escritura não há nada a não ser Cristo, em palavras simples ou palavras complicadas”.  “Se olharmos seu significado interior, toda Escritura é somente sobre Cristo em todo lugar, ainda que superficialmente possa parecer diferente.” Para compreender esse significado interior, Lutero procura ler o Antigo Testamento à luz do Novo.  Ainda que não seja tão enfático quanto à  abrangência, Calvino deixa claro o seu entendimento acerca da importância de buscar o conhecimento de Cristo no Antigo Testamento: 
 … nós devemos ler as Escrituras com o expresso propósito de encontrar Cristo nela. Quem quer que se desvie desse propósito, embora possa fatigar-se por toda a sua vida no aprendizado, nunca alcançará o conhecimento da verdade; pois que sabedoria podemos ter sem a sabedoria de Deus?… Por Escrituras, é sabido, aqui se quer dizer o Antigo Testamento; pois não foi no Evangelho que Cristo primeiro começou a ser manifestado, mas, tendo recebido testemunho da Lei e dos Profetas, ele foi abertamente exibido no Evangelho.
Calvino observa que a compreensão sobre Cristo não é tão clara no Antigo Testamento quanto é no Novo, mas isso não significa que o testemunho de Cristo não esteja presente e suficientemente claro aos que buscam por ele. Para Calvino, Cristo está presente no Antigo Testamento de três formas: como o eterno Logos, como promessa e como tipos, imagens e figuras. Greidanus aponta que não há dúvida de que Calvino cria profundamente na presença de Cristo no Antigo Testamento, mas destaca que, por alguma razão, ele não demonstra sentir-se obrigado a destacar essa presença em todo sermão. De fato, a maioria dos sermões de Calvino sobre o Antigo Testamento são mais bem descritos como teocêntricos.

A despeito de toda essa referência, a seguinte ilustração citada por Spurgeon nos parece por demais chocante.
Um jovem tinha pregado na presença de um respeitável teólogo, e ao final foi até o velho ministro e disse: “O que você achou do meu sermão?”. “Um sermão muito pobre de fato”, ele disse. “Um sermão pobre?”, disse o jovem, “ele me custou um longo tempo de estudo”. “Sim, disso eu não duvido”. “Por que você não acha que minha explanação do texto é muito boa?”. “Oh, sim,” disse o velho pregador, “é muito boa de fato”… “Diga-me porque você o considera um sermão pobre?” “Porque,” disse ele, “não há Cristo nele”. “Bem”, disse o jovem, “Cristo não estava no texto; nós não devemos pregar Cristo sempre, nós devemos pregar o que está no texto”. Então o idoso disse: “Você não sabe, rapaz, que de cada cidade, cada vila ou vilarejo na Inglaterra, onde quer que esteja, há uma estrada para Londres? … Da mesma forma em cada texto da Escritura, há uma estrada… para Cristo. E meu caro irmão, seu trabalho é, quando chegar a um texto, dizer: ‘Então, qual é a estrada para Cristo?’ e então pregar o sermão, percorrendo a estrada até… Cristo. E… eu nunca encontrei um texto que não possuísse uma estrada para Cristo, e ainda que eu ache um que não tenha uma estrada para Cristo, eu faria uma; eu passaria por cima de cercas e valas, mas eu chegaria a meu Mestre, pois um sermão não pode fazer nada de bom a menos que tenha o perfume de Cristo nele
Essa ilustração não deve ser entendida como se a tarefa de pregar Cristo em todos os sermões devesse ser executada a qualquer preço, inclusive daquelas normas de interpretação que são prezadas por manterem os pregadores fiéis ao ensino proposto pelo texto. Porém, isso deve ser feito como expressão da convicção de que essas normas levarão ao testemunho de Cristo. A questão que se impõe, portanto, é se é possível ser fiel ao significado do texto, um baluarte do método gramático-histórico, e, ao mesmo tempo, imitar os ícones do passado que pregavam somente Cristo. Por outro lado, considerando o testemunho do Novo Testamento e da história, é preciso questionar se os pregadores contemporâneos têm sido fiéis ao significado do texto do Antigo Testamento se, ao contrário do que disseram Jesus e os apóstolos, não percebem o modo como esse texto testemunha de Cristo. Greidanus coloca a questão da seguinte forma:

O que é importante para os pregadores contemporâneos é o seguinte: se o Antigo Testamento realmente evidencia Cristo, então só somos pregadores fiéis quando fazemos justiça a essa dimensão em nossa interpretação e pregação do Antigo Testamento. A tragédia está em que a exegese histórica contemporânea, que procura com tanto empenho recuperar o significado original do Antigo Testamento, geralmente ignora essa dimensão. Embora Cristo seja retratado no Antigo Testamento, pregadores cristãos atuais muitas vezes deixam de notá-lo.

Evidentemente a amplitude do tema nos impede de tratar dessa questão sem impor-lhe limites. Para este estudo foi selecionada a pregação biográfica por ser um aspecto razoavelmente específico da pregação no qual a questão da pregação cristocêntrica adquire evidente importância. Será bastante explorado um antigo livro do professor Greidanus, Sola Scriptura – Problems and Principles in Preaching Historical Texts, onde ele expõe uma controvérsia  ocorrida na Igreja Reformada Holandesa sobre o que ele denominou “pregação exemplarista”. Colocando de maneira simples, “a disputa era que os pregadores sobre os textos históricos apresentavam as pessoas mencionadas nos textos como modelos a serem imitados, como exemplos a serem seguidos – daí o termo ‘pregação exemplarista’.” Pregação biográfica e pregação exemplarista não são a mesma coisa, mas serão tratadas em correlação por ser perceptível, como se verá na próxima seção, que a pregação biográfica de nossos dias é predominantemente exemplarista. O intuito final será, então, propor uma abordagem cristocêntrica para os sermões biográficos.

 
Por John Piper. © Desiring God. Website: desiringGod.org




Tradução e Legenda: voltemosaoevangelho.com

Fonte: Voltemos ao Evangelho  Divulgação: Massoreticos

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