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Os Evangelhos do Novo Testamento são a testemunha ocular da verdadeira
história de Jesus Cristo, ou a história pode ter sido mudada ao longo
dos anos? Devemos simplesmente aceitar os relatos do Novo Testamento de
Jesus pela fé, ou existem evidências de sua confiabilidade?
Peter Jennings, âncora do ABC News, esteve em Israel transmitindo um
programa de TV especial sobre Jesus Cristo. Seu programa, “The Search
for Jesus” (A Busca por Jesus), explorou a questão sobre se o Jesus do
Novo Testamento tinha precisão histórica.
Jennings apresentou opiniões sobre os relatos do Evangelho do professor
da DePaul University, John Dominic Crossan, de três colegas de Crossan
do Seminário de Investigação sobre Jesus, e de dois outros estudiosos da
Bíblia. (O Seminário de Investigação sobre Jesus é um grupo de
estudiosos que debate as palavras e ações registradas de Jesus e, em
seguida, utiliza as cores vermelha, rosa, cinza e preta para indicar a
confiabilidade dos relatos do Evangelho, na opinião deles.)[1]
Alguns dos comentários foram impressionantes. No programa de TV
nacional, o Dr. Crossan não apenas lançou dúvida sobre mais de 80% das
declarações de Jesus como também negou a divindade, os milagres e a
ressurreição atribuídos a Jesus. Jennings ficou claramente intrigado
pela imagem de Jesus apresentada por Crossan.
A busca pela verdadeira história da Bíblia sempre é notícia, motivo pelo
qual todo ano as revistas Time e Newsweek trazem uma matéria de capa
sobre Maria, Jesus, Moisés e Abraão. Ou—quem sabe?—talvez a matéria
deste ano seja “Bob: a história não contada do 13º discípulo
desconhecido”.
Trata-se de entretenimento e, portanto, a investigação nunca terminará
nem renderá respostas, pois isso acabaria com o assunto para o futuro.
Em vez disso, pessoas com opiniões radicalmente diferentes são reunidas
como em um episódio de Survivor, embaralhando a questão em vez de trazer
mais clareza.
Mas o relatório de Jennings enfocou um aspecto que merece ser levado a
sério. Crossan afirmou que os relatos originais de Jesus foram
embelezados pela tradição oral e não haviam sido escritos até depois da
morte dos apóstolos. Assim, eles seriam altamente não confiáveis e não
poderiam nos oferecer uma imagem precisa do verdadeiro Jesus. Como
saberemos se isso realmente é verdade?
Perdidos na tradução?
Então, o que as evidências mostram? Começamos com duas perguntas
simples: Quando foram escritos os documentos originais do Novo
Testamento? E quem os escreveu?
A importância dessas perguntas é óbvia. Se os relatos de Jesus foram
escrito após a morte das testemunhas oculares, ninguém pôde confirmar
sua precisão. Mas se os relatos do Novo Testamento foram sido escritos
enquanto os apóstolos originais ainda estavam vivos, sua autenticidade
poderia ser estabelecida. Pedro poderia se defender de uma falsa
afirmação atribuída a ele dizendo, “Ei, não escrevi isso”. E Mateus,
Marcos, Lucas e João poderiam responder a perguntas ou desafios
relacionados aos seus relatos sobre Jesus.
Os autores do Novo Testamento afirmaram terem sido testemunhas oculares
dos relatos de Jesus. O apóstolo Pedro declarou o seguinte em uma carta:
“Porque não vos fizemos saber a virtude e a vinda de nosso Senhor Jesus
Cristo, seguindo fábulas artificialmente compostas; mas nós mesmos
vimos a sua majestade” (2 Pedro 1:16 NLT).
Uma grande parte do Novo Testamento é composta pelas 13 cartas de
Paulo para jovens da igreja. As cartas de Paulo, datadas da metade dos
anos 40 e da metade dos anos 60 (anos 12 a 33 depois de Cristo),
constituem as primeiras testemunhas da vida e dos ensinamentos de Jesus.
Will Durant escreveu sobre a histórica importância das cartas de Paulo:
“A evidência cristã de Cristo começa com as cartas atribuídas a São
Paulo. … Ninguém questionou a existência de Paulo, ou seus repetidos
encontros com Pedro, Thiago e João; e Paulo admitia enciumadamente que
esses homens haviam conhecido pessoalmente o Cristo.”[2]
Mas será que é verdade?
Em livros, revistas e documentários da TV, o Seminário de Investigação
sobre Jesus sugere que os Evangelhos foram escritos entre os anos 130 a
150 d.C. por autores desconhecidos. Se essas datas estiverem corretas,
haveria uma lacuna de aproximadamente 100 anos após a morte de Cristo
(estudiosos situam a morte de Jesus entre os anos 30 e 33 d.C.). E, uma
vez que todas as testemunhas oculares estariam mortas, os Evangelhos só
poderiam ter sido escritos por autores desconhecidos, fraudulentos.
Portanto, quais evidências temos em relação a quando os relatos do
Evangelho de Jesus foram realmente escritos? O consenso da maioria dos
estudiosos é que os Evangelhos foram escritos por apóstolos durante
primeiro século. Eles mencionam diversas razões que serão analisadas
mais adiante neste artigo. Por enquanto, observe no entanto que três
formas iniciais de evidência parecem criar uma base sólida para as
conclusões deles:
- documentos primitivos de hereges como Marcião e a escola de Valentino mencionando livros, temas e passagens do Novo Testamento (leia “O sorriso de Mona Lisa”)
- numerosos escritos de fontes primitivas do Cristianismo, como do Clemente de Roma, Ignácio e Policarpo.
- descoberta de cópias de fragmentos do Evangelho com verificação de carbono datada de 117 d.C.
O arqueólogo bíblico William Albright concluiu, na base de sua pesquisa,
que todos os livros do Novo Testamento foram escritos enquanto a
maioria dos apóstolos ainda estava viva. Segundo ele, “Já podemos
afirmar enfaticamente que não existe mais nenhuma base sólida para
atribuir a data de qualquer livro a depois de 80 d.C., ou seja, duas
gerações inteiras antes da data entre 130 e 150 d.C., dada pelos
críticos atuais mais radicais do Novo Testamento”.[4] Em outro ponto, Albright situa a escrita de todo o Novo Testamento “provavelmente entre 50 d.C. e 75 d.C.”[5]
O estudioso John A. T. Robinson, notoriamente cético, atribui ao Novo
Testamento uma data anterior àquela afirmada até mesmo pelos estudiosos
mais conservadores. Em Redating the New Testament (A Redatação
do Novo Testamento), Robinson afirma que a maior parte do Novo
Testamento foi escrita entre 40 d.C. e 65 d.C. Isso significa que ele
teria sido escrito sete anos após o período em que Cristo viveu.[6]Se
isso for verdade, quaisquer erros históricos teriam sido imediatamente
apontados tanto por testemunhas oculares como por inimigos do
Cristianismo.
Assim, vamos ver a trilha de pistas que nos leva dos documentos originais às nossas cópias atuais do Novo Testamento.
Quem precisa tirar cópias?
Os escritos originais dos apóstolos foram reverenciados. Eles foram
estudados, compartilhados, cuidadosamente preservados e armazenados como
um tesouro escondido pelas igrejas.
Mas, infelizmente, os confiscos romanos, a passagem de 2000 anos e a
segunda lei da termodinâmica cobraram seu preço. Então, hoje, o que
temos desses escritos originais? Nada. Os manuscritos originais se foram
(embora, sem dúvida, toda semana estudiosos da Bíblia sintonizem no
programa de TV Antiques Roadshow esperando que um manuscrito seja descoberto).
Ainda assim, o Novo Testamento não está sozinho nesse destino; nenhum
outro documento comparável da história antiga continua existindo
atualmente. Os historiadores não são incomodados pela falta de
manuscritos originais, uma vez que têm cópias confiáveis para examinar.
Mas existem cópias antigas do Novo Testamento disponíveis e, se existem,
elas são fiéis aos originais?
Conforme o número de igrejas se multiplicava, centenas de cópias eram
cuidadosamente feitas sob a supervisão dos líderes da igreja. Cada carta
foi meticulosamente escrita à tinta em pergaminho ou papiro. E assim,
atualmente, estudiosos podem examinar as cópias sobreviventes (e as
cópias das cópias, e as cópias das cópias das cópias—você entendeu) para
determinar a autenticidade e chegar muito perto dos documentos
originais.
De fato, os acadêmicos que estudam literatura antiga desenvolveram a ciência da crítica textual para examinar documentos como A Odisseia,
comparando-os a outros documentos antigos para determinar sua precisão.
Mais recentemente, o historiador militar Charles Sanders ampliou a
crítica textual desenvolvendo um teste dividido em três partes que
analisa não apenas a fidelidade da cópia, mas também a credibilidade dos
autores. Os testes são:
- O teste bibliográfico;
- O teste da evidência interna; e
- O teste da evidência externa[7].
Vamos ver o que acontece quando aplicamos esses testes aos primeiros manuscritos do Novo Testamento.
Teste bibliográfico
Este teste compara um documento a outros documentos históricos antigos do mesmo período. Ele questiona:
- Quantas cópias do documento original existem?
- Quanto tempo se passou entre os escritos originais e as primeiras cópias?
- Como um documento se compara a outros documentos históricos antigos?
Imagine se tivéssemos apenas duas ou três cópias dos manuscritos
originais do Novo Testamento. A amostragem seria tão pequena que não
poderíamos confirmar sua precisão. Por outro lado, se temos centenas ou
até mesmos milhares de cópias, podemos facilmente disseminar erros de
documentos mal transmitidos.
Então, como o Novo Testamento se compara a outros escritos antigos
considerando-se o número de cópias e o intervalo em relação aos
originais? Atualmente, existem mais de 5000 manuscritos do Novo
Testamento no idioma grego original. Quando contamos traduções para
outros idiomas, o número é espantoso: 24.000 — datadas dos séculos II a
IV.
Compare isso ao segundo manuscrito histórico antigo mais bem documentado, a Ilíada de Homero, com 643 cópias.[8]
E lembre-se de que a maioria dos trabalhos históricos antigos têm muito
menos cópias existentes do que esse (geralmente, menos de 10). O
estudioso do Novo Testamento Bruce Metzger ressalta, “Em contraste com
esses números [de outros manuscritos antigos], a crítica textual do Novo
Testamento é atrapalhada pela integridade do material”.[9]
Intervalo de tempo
Não apenas o número de manuscritos é significativo, mas também o
intervalo de tempo transcorrido entre quando o original foi escrito e a
data da cópia. Ao longo de mil anos de cópias, não é possível dizer no
quê um texto poderia se transformar. Mas quando se trata de cem anos, a
história é diferente.
O crítico alemão Ferdinand Christian Baur (1792–1860) certa vez afirmou
que o Evangelho de João não havia sido escrito por volta de 160 d.C. e,
portanto, não poderia ter sido escrito por João. Isso, se for verdade,
não questionaria apenas os escritos de João, mas também lançaria
suspeita sobre todo o Novo Testamento. Mas então, quando um esconderijo
dos fragmentos em papiro do Novo Testamento foi descoberto no Egito, no
meio estava um fragmento do Evangelho de João (especificamente, P52:
João 18:31-33) datado de aproximadamente 25 anos depois que João havia
escrito o original.
Metzger explicou que, “assim como Robinson Crusoé, que viu uma única
pegada na areia e concluiu que havia outro ser humano, com dois pés,
presente na ilha junto com ele, o fragmento P52 prova a existência e o
uso do Quarto Evangelho durante a primeira metade do século II em uma
província ao longo do Nilo, muito afastada do local de escrita
tradicional (Éfeso, na Ásia Menor).”[10]Achado
após achado, a arqueologia desvendou cópias de grandes partes do Novo
Testamento, datadas de até 150 anos após os originais.[11]
Muitos outros documentos antigos têm intervalos de 400 a 1400 anos. Por
exemplo, a Poética de Aristóteles foi escrita por volta de 343 a.C., e a
primeira cópia é datada de 1100 d.C., sendo que existem apenas cinco
cópias. E, ainda assim, ninguém sai em busca do histórico Platão,
afirmando que na verdade ele era um bombeiro, e não um filósofo.
De fato, existe um corpo quase completo da Bíblia chamado Codex
Vaticanus, que foi escrito somente cerca de 250 a 300 anos depois da
escrita original dos apóstolos. O corpo completo mais antigo conhecido
do Novo Testamento em um manuscrito uncial antigo é chamado Codex
Sinaiticus que, agora, está guardado no Museu Britânico.
Assim como o Codex Vaticanus, ele é datado do século IV. Voltando ao
início da história cristã, o Vaticanus e o Sinaiticus são como outros
manuscritos bíblicos no sentido em que diferem minimamente um do outro e
nos oferecem uma imagem muito boa do que os documentos originais devem
ter dito.
Até mesmo o crítico acadêmico John A. T. Robinson admitiu que “a
integridade dos manuscritos e, acima de tudo, o curto intervalo entre a
escrita original e as primeiras cópias existentes, tornam o Novo
Testamento de longe o texto mais certificado de qualquer escrito antigo
no mundo.”[12] O
professor de Direito John Warwick Montgomery afirmou que “ser cético em
relação ao texto resultante dos livros do Novo Testamento é permitir
que toda a antiguidade clássica deslize para a obscuridade, já que
nenhum documento do período antigo é tão bem confirmado
bibliograficamente como o Novo Testamento.”[13]
A questão é: Se os registros do Novo Testamento foram feitos e
circulados tão próximos aos eventos reais, é muito mais provável que o
seu retrato de Jesus seja preciso. Mas a evidência externa não é a única
forma de responder à dúvida sobre a confiabilidade; estudiosos também
usam a evidência interna para responder a essa pergunta.
A descoberta do Codex Sinaiticus
Em 1844, o estudioso alemão Constantine Tischendorf estava procurando
manuscritos do Novo Testamento. Acidentalmente, ele percebeu um cesto
cheio de páginas velhas na biblioteca do monastério de Santa Catarina,
no Monte Sinai. O estudioso alemão ficou eufórico e chocado. Ele nunca
havia visto manuscritos gregos tão antigos. Tischendorf perguntou ao
bibliotecário sobre os papéis e ficou surpreso ao descobrir que as
páginas haviam sido descartadas para serem usadas como combustível. Dois
cestos daqueles papéis já haviam sido queimados!
O entusiasmo de Tischendorf deixou os monges desconfiados, e eles não
quiseram lhe mostrar outros manuscritos. No entanto, eles deixaram que
Tischendorf levasse as 43 páginas que havia descoberto.
Quinze anos depois, Tischendorf voltou ao monastério de Sinai, desta vez
com a ajuda do Czar russo Alexandre II. Uma vez lá, um monge levou
Tischendorf até seu quarto e lhe mostrou um manuscrito envolto em tecido
que havia sido armazenado em uma prateleira com xícaras e louças.
Tischendorf imediatamente reconheceu as valorosas partes restantes dos
manuscritos que havia visto anteriormente.
O monastério aceitou dar o manuscrito como presente ao czar russo, como
protetor da igreja grega. Em 1933, a União Soviética vendeu o manuscrito
ao Museu Britânico por £100.000.
O Codex Sinaiticus é um dos primeiros manuscritos completos do Novo
Testamento que temos, e está entre os mais importantes. Alguns especulam
que ele é uma das 50 Bíblias que o imperador Constantino encomendou
para a preparação de Eusébio no início do século IV. O Codex Sinaiticus
tem sido um enorme auxílio para os estudiosos na verificação da precisão
do Novo Testamento.
Teste de evidência interna
Assim como bons detetives, os historiadores verificam a confiabilidade
observando pistas internas. Essas pistas revelam as motivações dos
autores e sua disponibilidade para revelar detalhes e outros aspectos
que podem ser verificados. As principais pistas internas que esses
estudiosos usam para testar a confiabilidade são:
- consistência dos relatos das testemunhas oculares;
- detalhes dos nomes, locais e eventos;
- cartas para indivíduos ou grupos pequenos;
- aspectos embaraçosos para os autores;
- a presença de material irrelevante ou não produtivo;
- falta de material relevante[14]
Vamos usar como exemplo o filme Friday Night Lights. O filme é
supostamente baseado em eventos históricos mas, assim como em muitos
filmes livremente baseados em fatos reais, você fica constantemente
perguntando “as coisas aconteceram assim mesmo?” Então, como você
determinaria sua confiabilidade histórica?
Uma pista seria a presença de material irrelevante. No meio do filme, o
técnico, sem motivo aparente, recebe uma chamada telefônica informando
que sua mãe tem câncer no cérebro. O evento não tem relação com o enredo
e nunca é mencionado novamente. A única explicação para a presença
desse fato irrelevante seria que ele realmente ocorreu e que o diretor
desejava ser historicamente preciso.
Outro exemplo do mesmo filme. Seguindo o fluxo dramático, queremos que o
Permian Panthers vença o campeonato estadual. Mas eles não vencem. Isso
parece não ser produtivo para o drama, e imediatamente descobrimos que o
fato está lá porque, na vida real, o Permian perdeu o jogo. A presença
de material não produtivo também é uma pista para a precisão histórica.
Por fim, o uso de cidades reais e pontos de referência familiares, como
Houston Astrodome, nos leva a considerar como históricos esses elementos
da história, porque eles são muito fáceis de corroborar ou de
falsificar.
Existem poucos exemplos de como a evidência interna aproxima ou afasta a
conclusão de que um documento é historicamente confiável. Analisaremos
brevemente a evidência interna da historicidade do Novo Testamento.
Diversos aspectos do Novo Testamento nos ajudam a determinar sua historicidade com base em seu próprio conteúdo e qualidades.
Consistência
Documentos inexatos ou deixam de fora relatos de testemunhas oculares ou
são inconsistentes. Por isso, claras contradições entre os Evangelhos
provariam que eles contêm erros. Mas, ao mesmo tempo, se todo Evangelho
dissesse exatamente a mesma coisa, isso levantaria suspeitas de
conspiração. Seria como conspiradores tentando concordar em cada detalhe
de um esquema. O excesso de consistência é tão duvidoso quanto a falta.
Testemunhas oculares de um crime ou incidente geralmente percebem
corretamente os eventos significativos, mas os veem a partir de
perspectivas diferentes. Da mesma forma, os quatro Evangelhos descrevem
os eventos da vida de Jesus de diferentes perspectivas. Ainda assim,
independentemente dessas perspectivas, estudiosos da Bíblia se
surpreendem com a consistência dos relatos e com a clara imagem de Jesus
e de seus ensinamentos que esses relatos complementares compõem.
Detalhes
Historiadores adoram detalhes em um documento porque eles facilitam a
verificação da confiabilidade. As cartas de Paulo são repletas de
detalhes. E os Evangelhos estão cheios deles. Por exemplo, tanto o
Evangelho de Lucas como o seu Livro de Atos foram escritos para um nobre
chamado Teófilo, que era sem dúvida um indivíduo muito conhecido na
época.
Se esses escritos tivessem sido meras invenções dos apóstolos, a
inexatidão de nomes, locais e eventos teria rapidamente sido apontada
por seus inimigos, como os líderes judeus e romanos. Isso teria sido o
escândalo de Watergate do século I. Além disso, muitos detalhes do Novo
Testamento foram confirmados por verificações independentes. O
historiador clássico Colin Hemer, por exemplo, “identifica 84 fatos nos
últimos 16 capítulos dos Atos que foram confirmados por pesquisa
arqueológica”.[15]
Nos séculos anteriores, estudiosos céticos da Bíblia questionaram a
autoria de Lucas e sua datação, afirmando que os escritos eram do século
II e de um autor desconhecido. O arqueólogo Sir William Ramsey estava
convencido de que estavam certos e começou a investigar. Após uma
extensa pesquisa, o arqueólogo mudou sua opinião. Ramsey cedeu, “Lucas é
um historiador de primeira classe. … Este autor pode ser colocado entre
os grandes historiadores. … A história de Lucas goza de respeito e
confiabilidade insuperáveis”.[16]
Os Atos contam as viagens missionárias de Paulo, listando os locais que
ele visitou, as pessoas que viu, as mensagens que transmitiu e a
perseguição que sofreu. Seria possível falsificar todos esses detalhes? O
historiador romano escreveu A. N. Sherwin-White que “a confirmação da
historicidade dos Atos é claríssima. … A partir de agora, qualquer
tentativa de rejeitar sua historicidade básica será um absurdo. Os
historiadores romanos já haviam aceitado isso como fato há muito tempo”.[17]
Dos relatos do Evangelho até as cartas de Paulo, os autores do Novo
Testamento descreveram abertamente detalhes, chegando a citar nomes de
indivíduos que viveram na época. Os historiadores confirmaram pelo menos
30 desses nomes.[18]
Cartas para grupos pequenos
A maioria dos textos forjados é de documentos de natureza geral e
pública, como este artigo de revista (sem dúvidas, incontáveis
falsificações já estão circulando no mercado negro). O especialista em
História Louis Gottschalk observa que cartas pessoais destinadas a
públicos pequenos têm alta probabilidade de serem confiáveis.[19] Em
qual categoria os documentos do Novo Testamento se encaixam?
Bem, alguns deles tinham claramente a finalidade de serem amplamente
distribuídos. Ainda assim, grandes partes do Novo Testamento consistem
em cartas pessoais escritas para pequenos grupos e indivíduos. Esses
documentos, no mínimo, não seriam considerados grandes candidatos à
falsificação.
Aspectos embaraçosos
A maioria dos escritores não quer ser constrangido em público. Por isso,
os historiadores têm observado que documentos contendo revelações
embaraçosas sobre os autores geralmente são confiáveis. O que os autores
do Novo Testamento disseram sobre si mesmos?
Surpreendentemente, todos os autores do Novo Testamento se apresentavam
como frequentemente tolos, covardes e descrentes. Por exemplo, considere
a tripla negação de Pedro a Jesus ou a discussão dos discípulos sobre
qual deles era o melhor—ambas as histórias registradas nos Evangelhos.
Uma vez que o respeito aos apóstolos era crucial na igreja primitiva, a
inclusão desse tipo de material não indica outra coisa, senão que os
apóstolos eram verdadeiros em seus relatos.[20]
Em A História da Civilização, Will Durant escreveu sobre os
apóstolos, “esses homens dificilmente eram do tipo que seria escolhido
para remodelar o mundo. Os Evangelhos diferenciavam seus caracteres de
forma realista, e expunha abertamente suas falhas”.[21]
Material não produtivo ou irrelevante
Os Evangelhos nos contam que a tumba vazia de Jesus foi descoberta por
uma mulher embora, em Israel, o testemunho de mulheres fosse considerado
praticamente sem valor e não fosse nem mesmo admitido em julgamentos.
Existem registros de que a mãe e a família de Jesus acreditavam que ele
havia perdido a razão. Diz-se que algumas das últimas palavras de Jesus
na cruz foram “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” E por aí
vai a lista de incidentes registrados no Novo Testamento que não seriam
produtivos se a intenção do autor fosse algo diferente da transmissão
precisa da vida e dos ensinamentos de Jesus Cristo.
Falta de material relevante
É irônico (e talvez lógico) que alguns dos maiores problemas enfrentados
pela igreja do primeiro século—missões em gentios, dádivas espirituais,
batismo, liderança—tenham sido abordados diretamente nas palavras
registradas de Jesus. Se seus seguidores estivessem simplesmente gerando
o material para incentivar o crescimento da igreja, não seria possível
explicar por que eles não teriam forjado instruções de Jesus sobre essas
questões. Em um caso, o apóstolo Paulo afirmou claramente sobre um
determinado assunto “Sobre isto não temos ensinamento do Senhor”.
Teste de evidência externa
A terceira e última medida da confiabilidade de um documento é o teste
de evidência externa, que questiona “os registros históricos externos ao
Novo Testamento confirmam sua confiabilidade?” Portanto, o que os
historiadores não cristãos dizem sobre Jesus Cristo?
"De forma geral, pelo menos 17 escritos não cristãos registram mais de 50
detalhes relacionados à vida, aos ensinamentos, à morte e à
ressurreição de Jesus, além de detalhes relativos à igreja primitiva.”[22]
Isso é impressionante, considerando a falta de outros dados históricos
deste período. Jesus é mencionado por mais fontes do que as conquistas
de César durante o mesmo período. O que impressiona ainda mais é o fato
de que essas confirmações dos detalhes do Novo Testamento datam de 20 a
150 anos depois de Cristo, “o que é bastante cedo, considerando os
padrões da historiografia antiga”.[23]
A confiabilidade do Novo Testamento é adicionalmente embasada por mais
de 36 mil documentos cristão fora da Bíblia (citações de líderes da
igreja dos primeiros três séculos) datados de 10 anos após o último
escrito do Novo Testamento).[24]
Se todas as cópias do Novo Testamento fossem perdidas, seria possível
reproduzi-las a partir dessas outras cartas e documentos, com exceção de
alguns poucos versos.[25]
O professor emérito da Boston University, Howard Clark Kee, conclui que
“o resultado da avaliação das fontes externas ao Novo Testamento
relacionadas… ao nosso conhecimento de Jesus confirma sua existência
histórica, seus poderes incomuns, sua devoção aos seus seguidores, a
continuação da existência do movimento após sua morte… e a penetração do
Cristianismo na própria Roma no final do primeiro século”.[26]
Assim, o teste de evidência externa se soma às evidências fornecidas
pelos outros testes. Apesar da suposição de alguns céticos radicais, o
retrato que o Novo Testamento oferece do Jesus Cristo real é
praticamente à prova de máculas. Embora haja alguns dissidentes, como o
Seminário de Investigação sobre Jesus, o consenso dos especialistas,
independentemente de suas crenças religiosas, confirma que o Novo
Testamento que lemos hoje representa fielmente tanto as palavras como os
eventos da vida de Jesus.
Clark Pinnock, professor de interpretação no McMaster Divinity College,
resumiu bem ao dizer “não existe nenhum documento do mundo antigo
testemunhado por um conjunto de depoimentos textuais e históricos tão
excelentes. … Uma pessoa honesta não pode desconsiderar uma fonte desse
tipo. O ceticismo relacionado às credenciais históricas do Cristianismo
tem uma base irracional”.[27]
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