“Porque eu vivo, vós também vivereis”
É a essa vida ressurreta que a fé nos liga desde o momento em que cremos
Naquele que morreu e ressuscitou novamente. Por isso, notemos coisas
como essas:
1. A segurança dessa vida ressurreta. Ela não é uma simples
vida proveniente do nada, como no caso do primeiro Adão, mas uma vida
proveniente da morte. E é essa vida que as Escrituras nos apresentam
como a mais sublime, completa e segura. O solo do qual a árvore da
imortalidade brota não é o solo comum da terra, mas do bolor do
cemitério, do pó do túmulo. Essa vida muito mais segura, essa vida na
qual nenhuma morte pode tocar, vem a nós através da vida ressurreta
Daquele que morreu e ressuscitou novamente. A fé que nos une a Ele nos
torna participantes de sua vida ressurreta; e não somente isso, mas o
faz de forma tão completa, que a ressurreição dEle se torna nossa: somos
ressuscitados nEle e juntamente com Ele nos revestimos da imortalidade
divina.
2. O poder dessa vida ressurreta. É como Aquele que ressuscitou que Ele diz: “Toda a autoridade me
foi dada”. Foi como o possuidor dessa autoridade que Ele saiu do
sepulcro; uma autoridade como aquela com a qual Ele venceu a morte: “o
poder de uma vida indissolúvel”. Esse grão de trigo caiu na terra e
morreu, embora semeado em fraqueza, foi ressuscitado em poder. Foi com
esse poder da vida ressurreta que Ele ascendeu aos céus, levando cativo o
cativeiro. É nesse poder da vida ressurreta que Ele agora domina sobre o
trono. É nesse poder da vida ressurreta que Ele virá novamente em
poder e glória. O Redentor, Rei, Juiz de todos. É esse poder da vida
ressurreta que Ele exibe em Sua Igreja — que Ele exerce ao nos regenerar
para uma viva esperança e ao sustentar cada regenerado num mundo de
hostilidade e morte, em meio a lutas, sem temores internos. É a esse
poder dessa vida ressurreta que nos submetemos nos dias de fraqueza e
conflito, de modo que, fortalecidos no Senhor e na força do seu poder,
tornamo-nos mais que vencedores.
3. O amor dessa vida ressurreta. A ressurreição foi uma nova e
mais elevada fase da existência, e com a perfeição da vida, veio também
a perfeição do amor. Agora, o instrumento estava afinado da forma mais
perfeita e estava adequado tanto para conter quanto para expressar uma
nova medida de amor. O amor da vida ressurreta é o mais abundante e o
mais elevado de todos. É desse amor que nos tornamos participantes, um
amor que está além de tudo o que é terreno e humano, um amor que excede
todo entendimento.
4. A afinidade da vida ressurreta. A ressurreição não forma um
abismo ou levanta uma parede entre nós e Aquele que ressuscitou. Ela
não é o Pastor se afastando de seu rebanho para uma altura inacessível.
Ela é o aterramento de todos os abismos, a derrubada de todas as
paredes; ela é o Pastor se aproximando para uma afinidade mais íntima e
mais plena com o Seu rebanho. É verdade, eles são maus, e Ele é bom;
eles são mundanos, e Ele é celestial. Mas o que a ressurreição rejeitou
não foi nada em relação à verdadeira humanidade. Foram apenas as
debilidades puras que oprimiam Sua verdadeira humanidade e impediam que
as afinidades dessa humanidade chegassem ao seu pleno desenvolvimento e
atividade. A vida ressurreta, portanto, é a vida da maior e mais
verdadeira afinidade. Em sua perfeição, há perfeição de afinidade, o
desenvolvimento da plena expressão do sentimento de solidariedade
existente no Ser do Verbo que se fez carne.
5. As relações dessa vida ressurreta. A ressurreição não rompe
quaisquer vínculos, exceto os da mortalidade. Ela é o fortalecimento,
não o enfraquecimento das ligações que unem o Filho de Deus a nós, e nós
ao Filho de Deus. Os vínculos da ressurreição são os mais fortes de
todos. A vida ressurreta de Cristo não altera nenhuma das relações entre
Ele e Seus santos; ela não diminuiu o número de vezes em que entramos
em contato com Ele; ela não O tornou menos humano; nem cancelou
determinados canais de comunicação entre nós e Ele. Sua imortalidade não
O desligou daqueles que ainda estão na carne. Sua vida ressurreta não
abalou ou removeu o relacionamento que Ele tem com aqueles que ainda não
ressuscitaram. Ele continua sendo tudo o que era anteriormente, com
algo mais acrescentado: um novo amor, um novo poder, uma nova perfeição,
uma nova glória. A diferença entre Sua vida ressurreta e a não
ressurreta é mesma entre a do sol da alvorada e a do sol do meio-dia.
Que possamos nos regozijar com a memória de sua vida ressurreta como a
mais verdadeira, a mais adequada e a mais abençoada para nós. Quanto
mais percebermos a nossa própria mortalidade, que possamos sentir mais
ainda a preciosidade e a adequação da imortalidade Dele como Aquele que
ressuscitou; e que possamos perceber ainda mais a identificação entre
nós e Ele, em virtude da qual nós não só ressuscitaremos, mas já
ressuscitamos com Ele.
6. As alegrias dessa vida ressurreta. No túmulo, o Homem de
dores deixou todas as suas dores, assim como deixou todos os nossos
pecados. Ali, eles foram sepultados com Ele. Na ressurreição, sua
alegria teve início; nos Salmos, essa ligação entre a Sua ressurreição e
a Sua alegria é proclamada mais de uma vez. No Salmo 16, essas duas
coisas são colocadas juntas de modo excepcional, pois após ser dito:
“Nem permitirás que o teu Santo veja corrupção”, é acrescentado: “Tu me
farás ver os caminhos da vida (ressurreição), na tua presença há
plenitude de alegria” (veja Salmo 30.3-5; 116.3-7). Para Ele, a
ressurreição era alegria, não simplesmente porque ela encerrava Sua
ligação com a morte, mas porque ela o apresentava à plenitude de alegria
— uma alegria peculiar à vida ressurreta, a qual somente um homem
ressuscitado é capaz de ter. Pela fé, nós também entramos nessa alegria
de Sua vida ressurreta em alguma medida, mas a plenitude dessa alegria
ressurreta ainda está reservada para nós, que aguardamos a ressurreição
dos justos, quando tanto o corpo quanto o Cabeça terão exterminado a
tribulação e a morte para sempre.
7. As esperanças dessa vida ressurreta. Nós fomos “regenerados
para uma viva esperança (ou viva e doadora de vida), mediante a
ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos” (1Pe 1.3). A nossa
“esperança” está ligada à ressurreição de Cristo e à Sua vida
ressurreta — uma “esperança” que contém e concede “vida” aqui; uma
esperança que, semelhante a um botão de flor, abre-se para a plenitude
da vida gloriosa futura. A esperança da qual somos participantes por
meio da vida ressurreta do segundo Adão e que transcende, em muito,
qualquer esperança da vida não ressuscitada que o primeiro Adão poderia
conceder. Ela é a esperança de uma herança, de um reino, de uma cidade,
de uma glória, tais como os que pertencem somente à descendência do
segundo Adão; como as que só podem ser possuídas por aquele que foi
redimido e ressuscitado. A ressurreição do Filho de Deus é para nós o
penhor e a garantia dessa bendita esperança. Por essa razão, nosso lema
é: “Cristo em nós, a esperança da glória”.
Trecho do oitavo capítulo do livro “A Justiça Eterna” de Horatius Bonar, da Editora Fiel.
Fonte: Voltemas ao Evangelho Divulgação: Massoreticos
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